10/02/2009

‘Religião contra o amor não presta’

A afirmativa é do autor d‘O Armário’, Fabrício Viana, presença no Encontro sobre Homoerotismo

Para muitos, ele é polêmico; para outros um escritor, que fala a linguagem contemporânea, contrário a intolerância religiosa e exclusão dos homossexuais na sociedade. Pela segunda vez no Encontro da Nova Consciência, o escritor e ativista gay Fabrício Viana, 31, autor do livro 'O Armário', será um dos nomes mais badalados do evento paralelo - Encontro sobre Homoerostismo. Participam do encontro, o professor da Universidade Estadual da Paraíba, Adriano Barros, com a palestra "Homossexualidade, Escola e Preconceito: a construção social das diferenças" e o bacharel em Filosofia pela USJT e membro da MENSA, Alexey Dodsworth, que debaterá sobre "Homossexualidade: herança genética ou construção psíquica?" O Encontro sobre Homoerotismo acontecerá no domingo de carnaval, no CEDUC 2, a partir das 14h. Na entrevista que segue, Fabrício Viana fala sobre a mídia, o movimento gay e como o preconceito das religiões pode ajudar a fazer alguém infeliz.

O que pensa acerca das diferentes posições religiosas relativamente à homossexualidade?
Sou ateu. E como tal não vejo motivos para que um homossexual faça parte de uma religião que condena aquilo que lhe da prazer, novamente não falo só do sexo, mas sim do companheirismo, do deitar-se com outro homem. De construir um relacionamento estável. Afetivo. Isso é amor. Uma religião que é contra o amor na minha visão não presta. Ainda bem que hoje em dia existem Igrejas inclusivas. Onde as leituras sagradas são re-interpretadas e a homossexualidade é aceita. Ainda não servem para mim e nunca vai existir nenhuma. Mas acho que a base de tudo é o respeito.

Na sua opinião, como a homossexualidade é vista no país? Embora tenhamos paradas gays, visibilidade, muitas pessoas se assumindo com mais facilidade, o preconceito ainda existe, é grande e mata. Homofobia mata. Muitos que não entendem a homossexualidade acabam tentando destruir no outro aquilo que incomoda dentro de si. Eles fazem palestras contra a homossexualidade, a enxergam como uma doença e um pecado divino. Quando na verdade nunca foi e nunca será. A ciência esta ai justamente para provar isso. As pessoas e a sociedade só precisam de mais informações sobre o tema. Isso incluem também jornalistas, a imprensa, principalmente, afinal, eles também são comunicadores e formadores de opiniões. Precisam entender não só a homossexualidade, mas a sexualidade humana. Coisa que poucos entendem. 
Como o senhor lida com a sua homossexualidade no dia-a-dia? Hoje, tranquilamente. Amigos, vizinhos e colegas de trabalho, todos sabem e isso não muda em nada o meu dia-dia. Quem não gostava de mim, continua não gostando. Quem gostava, continua gostando. Pouquíssimas pessoas se afastaram ou se afastam. E para mim isso é uma grande vantagem, pois a vida é minha e a prioridade é a minha pessoa, meus desejos e minha felicidade plena.

Como o preconceito contra a pessoa homossexual se manifesta na sociedade brasileira? Desde um simples olhar discriminativo até a agressão e morte. Muitos se dizem não se importar com a homossexualidade desde que seja longe de sua família. E ai mora o problema, pois muitas famílias têm alguém homossexual ou bissexual internamente (sem saberem). E como lidar com isso? Ai mora o problema, pois eles simplesmente não sabem. E quando se dão conta, também discriminam. O maior preconceito vem mesmo de dentro de casa.

Como o preconceito pode interferir na qualidade de vida dessas pessoas?
Quando você não respeita a diferença e a individualidade do outro, seja quem ele for, você perde possibilidades de conhecer este "ser diferente". De aprender coisas novas. Se eu sou heterossexual e só tenho amizades com heterossexuais, eu perco uma gama gigantesca e valiosa de conviver e conhecer homossexuais. Não significa se envolver sexualmente com eles. Mesmo porque homossexualidade não é sinônimo de sexo. Ninguém, nem heterossexuais, fazem sexo 24h por dia. Muito menos homossexuais. A base é a troca. Por isso, do outro lado, os homossexuais também perdem com o preconceito dos outros.

Você publicou "O armário" que fala sobre como foi o processo de "saída do armário" e está lançando um segundo, que relata, de forma ficcional, experiências sexuais vivenciadas pelos personagens. 
"O Armário" é um livro educacional e quase técnico, mas com linguagem simples para que possa ser entendido por todos. Já o segundo livro é uma obra de ficção, uma história baseada em várias histórias que escuto por ai. O protagonista, que se chama Junior, é do interior de São Paulo, descobre a homossexualidade com um amigo, é pego por seu pai e expulso de casa. Depois ele é internado em uma clinica de recuperação de homossexuais. Aquelas fazendas religiosas que convertem gays para ex-gays. O Junior, quando descobre, foge e vai parar em São Paulo onde acaba morando com um casal chamado Marcos e Michelly. Daí para frente ele faz um resgate com seu passado, com tudo o que aconteceu na clínica e com os outros personagens do presente. Apesar de ser ficção, o "Prometheus" entra em várias questões como o casamento (tanto heterossexual quanto homossexual), relacionamento aberto, dentre outros. O lançamento esta previsto para este ano.

Quais são as suas expectativas para participar da 18º edição do Encontro da Nova Consciência?

Embora ainda esteja no processo de finalização do segundo livro, espero curtir mais o Encontro, passar informações bacanas, trocar experiências e também me inteirar dos eventos. Quanto mais puder passar e explicar sobre a homossexualidade, em todos os seus aspectos, melhor. Afinal, porque a homossexualidade tem a ver com o Encontro da Nova Consciência? Porque antes de tudo, somos seres humanos e como tal precisamos não só sermos respeitados como compreendidos. Essa é a nova consciência, uma consciência inclusiva e que promete ajudar a todos na construção de um mundo melhor. 
Com tantos personagens homossexuais nas telenovelas, a publicação de várias revistas homoeróticas e a luta pela aprovação do projeto PLC 122 que criminaliza a homofobia, você acredita que o momento atual é bom para os homossexuais? 
Nem um pouco. Esta melhor, mas ainda não. Homossexuais nas novelas ainda são caricatos, esquisitos e não podem beijar na boca. E quase ninguém percebe. Você já reparou que personagens homossexuais na Rede Globo tem diminutivo no nome? Sandrinho, Bernardinho, Orlandinho e por ai vai indo. Dias destes escutei que a novela "Três Irmãs" terá personagens gays apenas porque o ibope estava baixo. É uma tentativa de aumentar a audiência. Ridículo. Eles colocam os homossexuais na mídia justamente para mostrar como "eles são esquisitos". Só isso. Do outro lado temos a militância homossexual que, segundo uma recente crítica publicada no site da A Capa, esta preocupada apenas em debates, congressos e financiamentos do governo. Claro que não é todo o movimento, mas ainda existe uma desorganização e um mal estar pela luta dos direitos dos homossexuais.


fonte: http://db.onorte.com.br/terca/cultura/

09/02/2009

Cantor gospel decide casar com personal trainer

 

  "Menti, pois o medo chegou até a mim. Menti, pois a solidão parecia ser o meu fim. Uma dor no meu coração me fez resistir a todos preconceitos e conceitos que eu aprendi. Não sou mais um excluído. Eis me aqui."

Esse é um trecho da canção de trabalho ("Em Espírito e com Verdade") do cantor gospel carioca Jeff Moraes, de 27 anos. Aos 18, ele fez filme pornô, se prostituiu e agora é frequentador de uma igreja evangélica com foco GLS (Igreja Cristã Contemporânea).

Além de cuidar do novo CD e do trabalho de caridade com vítimas da Aids, Jeff também se prepara para casar com o personal trainer espanhol Yollito Netto. Relação com mulheres? Yollito tem um filho. Jeff é pai de trigêmeos.

 - Sua música aborda tabus no meio evangélico, como a homossexualidade. Há perseguição ao gênero "gospel gay"?

Jeff Moraes - Os pastores dizem que sou usado pelo diabo. Eles não querem ouvir ninguém, impõem que estão certos e ponto final. Me libertei da mentira pregada nas igrejas. Sou um servo de Deus sem máscaras.

 - Como sua música pode ajudar a combater a homofobia nas igrejas?

Jeff Moraes - Cantei a música "Em Espírito e com Verdade" numa festa de 15 anos. Depois a aniversariamente me ligou para dizer que sua amiga lésbica da escola se converteu após me ouvir. A letra fala sobre um jovem que mentiu para esconder do mundo que ele é gay com medo da solidão, com medo dos pais e descobre dentro de si o potencial de Deus para espalhar a paz aos que sofrem.

Quando visito igrejas tradicionais em eventos fechados ou shows, pastores ficam curiosos em saber o que canto, o que prego e como são nossos cultos. Eles não sabem lidar com os gays de sua igreja.

A dificuldade é chegar dentro das igrejas tradicionais. A internet é uma grande aliada para divulgar o gospel gay, bem como o envio de trechos das músicas via celular. Meu público-alvo é quem desconhece as canções de louvor inclusivas, com mensagens de amor que o público gay gostaria de ouvir na igreja.

 - Você freqüenta parada gay?

Jeff Moraes - Sim, por todo o Brasil. Chego dias antes, passo pelas igrejas e ONGs para levar a palavra inclusiva e fazendo assim algumas alianças. Há ainda pessoas que vão à parada gay para fazer a diferença. No ano passado, minha mãe me acompanhou no evento de oração pelas nações, antes do início da parada gay em Copacabana, onde cantei três músicas. Mas ela viu também uma cena que marcou sua mente: três rapazes fazendo sexo oral simultaneamente ao ar livre em plena parada gay. Ela comentou comigo sobe a imensa diferença das pessoas no evento.

 - É verdade que você já fez filme pornô?

Jeff Moraes - Sim. Era muito jovem, 18 anos, sem emprego, sem lar para morar. Na época, tinha sido expulso da família. A prostituição foi a única porta que se abriu. Eram filmes quase caseiros com rapazes brasileiros, era um filão há 10 anos. O produtor aproveitou meu histórico evangélico para batizar os filmes ("Na Cama com o Pastor", "Por Trás do Púlpito"). Quando retornei ao meio evangélico, acabei tendo um relacionamento com um pastor evangélico tradicional famoso, casado com uma famosa pastora evangélica. Eu era seu acompanhante em viagens missionárias. Ele me pagava para ser exclusivo. Também fiquei com um famoso cantor evangélico brasileiro, que me conheceu após ver os meus filmes.

 - Em que trabalho social você atua hoje?

Jeff Moraes - Levo nas madrugadas camisinhas, lanches e folhetos evangélicos aos travestis e garotos de programa que atuam na noite. Também ajudo crianças órfãs de pais com HIV em Cabo Frio, com cestas básicas e outros produtos. Muitos amigos, atores e cantores também abraçam essa causa. O povo brasileiro é solidário e o público gay muito assim.

 - E quando você vai casar com o personal trainer?


 
Jeff Moraes - No fim deste ano. Vamos apresentar nossa união a Deus diante de nossa comunidade cristã em comemoração à nossa convivência de paz, cumplicidade e amor numa cerimônia com muita música. Não será um casamento para ser colocado num álbum de recordação para ser guardado em casa, dentro da estante. Serão instantes com Deus, onde todos que forem irão ver que é possível ser feliz, casar e ser amado diante de Deus, mesmo sendo gay.

Serviço:
Igreja de Jeff: http://www.igrejacontemporanea.com.br/
Shows e CDs: 0/xx/21/9738-3037 ou pastorjeffersonpinto@bol.com.br

30/01/2009

Reproduzimos agora uma mensagem que recebemos do site A Capa.

É com imenso prazer que venho convidar você para participar da campanha virtual contra a homofobia em nosso país. A campanha visa ser uma poderosa ferramenta de divulgação, pressão e mobilização social, pela aprovação do PLC 122/06, que se aprovado tornará crime a homofobia no Brasil, equiparando-a ao racismo. O projeto de lei já foi aprovado na Câmara dos Deputados e aguarda votação no Senado Federal.
Contamos com a sua participação nesse abaixo-assinado online, onde você poderá apoiar a aprovação da lei. A meta é arrecadar mais de 1 milhão de assinaturas eletrônicas. E você pode fazer a diferença.
É muito simples participar. Você preenche o seu nome, e-mail e RG ou CPF. O registro dessas informações será utilizado para comprovar e divulgar aos senadores o número de pessoas que são favoráveis à lei.
Nesse momento que você lê essa mensagem alguém foi discriminado ou assassinado no Brasil por gostar de outra pessoa do mesmo sexo.
Ajude a mudar esta realidade.

Acesse www.naohomofobia.com.br e participe !

Indique o site para os seus amigos.
Agradecemos a você e a revista A Capa por apoiar essa campanha.

Cláudio Nascimento
Coordenador-Geral da Campanha Não-Homofobia

Mestre em Comunicação analisa final de personagens gays em A Favorita

 O jornalista Eduardo Peret defendeu em 2005 sua tese de mestrado em Comunicação na UERJ - Universidade Estadual do Rio de Janeiro. Intitulada "Do armário à tela global: a representação social da homossexualidade na telenovela brasileira", sua dissertação tem duas partes: uma compilação histórica de personagens gays nas novelas da Globo, desde a década de 70; e uma análise da novela Mulheres Apaixonadas (no ar em Vale a Pena Ver de Novo).

De lá pra cá, Eduardo atualizou a lista com os novos personagens e fez algumas ressalvas antes de responder as perguntas da reportagem. Em primeiro lugar ele explica que embora a novela se apresente como uma crônica do cotidiano, ela não é. Que a estratégia de provocar empatia, a identificação com o público, faz com que os segmentos sociais queiram se ver naquela abordagem caricatural da vida.

Em entrevista ao site A Capa, Peret, que também mantém o blog O Cabideiro, analisa o final dos personagens gays de A Favorita. Nas linhas abaixo ele fala sobre o desfecho em aberto de Stela e Catarina, aborda também o controverso Orlandinho e diz o que pensa sobre o amor/ fixação da vilã Flora Pereira da Silva por Donatela.

O que você achou do final dos personagens gays da novela A Favorita?

Achei previsível dentro da trama. Não foi nem de longe o melhor, mas era de se esperar.

Acredita que o fato de Catarina ter viajado com Stela para Buenos Aires, tido como um dos principais destinos gay-friendly da América Latina, foi um final subjetivo de alguma provável relação homoerótica?

 Acho que o autor colocou essa saída (praticamente um final em aberto) para satisfazer, pelo menos em parte, às expectativas da população LGBT, que já vinha se manifestando a respeito desse tema. A relação entre as duas era uma coisa mais séria, levada com delicadeza e bastante cuidado. Exatamente por causa do cuidado, surgiram algumas encruzilhadas.

Um final declaradamente lésbico entre as duas poderia suscitar teorias superficiais do tipo "mulher que apanha do marido e se torna independente acaba se tornando lésbica", como se fosse uma resposta traumática à violência. Por outro lado, mesmo se sabendo que é uma realidade que algumas pessoas LGBT se apaixonam por heterossexuais e não tentam ter uma vida amorosa com outra pessoa, preferindo manter um amor platônico, essa não é uma realidade geral e, de modo algum, é uma situação ideal.

Então, se a Stella fosse embora e a Catarina se casasse - voltando à vida caseira que tinha abandonado - ficaria esse impasse na vida das duas e a novela poderia contribuir para reforçar outra visão preconceituosa sobre os homossexuais: a de que nós "corrompemos" os heterossexuais, tirando-os do ciclo da vida familiar heteronormativa.

Ah, vale lembrar que a população em geral ignora que Buenos Aires seja um dos principais destinos gay-friendly da América Latina. Ou seja, parece mesmo ter sido uma mensagem aos gays e lésbicas antenados.

Antes de a novela começar, a atriz Lília Cabral chegou a dizer que estava cheia dessa história de beijo gay. Acredita  que de alguma forma ela não quis fazer  uma personagem lésbica para não ficar marcada ou estigmatizada e isso tenha influenciado o autor João Emanuel Carneiro?

A Lília Cabral é uma ótima atriz e muito competente, que não ficaria amedrontada com essa situação. Ela tem todo o direito de expressar essa sensação  em relação ao "beijo gay", por essa eterna ladainha de se ele vai ou não vai aparecer na próxima novela, se o próximo casal vai ou não ter mais intimidades etc. Creio que vários outros fatores devem ter contribuído para ainda não ser dessa vez - as diretrizes da direção da emissora, inclusive.

Como você avalia a personagem Stela? O que achou da saída de armário dela para Catarina?

Achei a Stela bem construída, feita com consciência e delicadeza, dentro dos limites da novela. A cena da declaração dela foi bem feita e cuidadosa, elogiada inclusive por algumas militantes lésbicas que não costumam assistir novela (risos). Considerando que era uma trama secundária e que havia enorme possibilidade de gerar uma imagem complicada das personagens, achei que a cena foi muito bem feita, parte de um processo bem construído.

Acredita que a baixa audiência do capítulo do "outing" de Stela (Paula Bularmaqui) seja mera coincidência ou o público não queria mesmo ver uma história homossexual dentro da trama?

 
Acho que foi coincidência. Muita gente que acompanha novelas não se preocupa em saber com antecedência o que vai acontecer no capítulo seguinte e não sei se o outing da Stela foi anunciado com data específica, nas sinopses divulgadas em jornais, por exemplo. Confesso que não me lembro em qual dia da semana a cena aconteceu.

Vale lembrar que os capítulos mais assistidos de novela são às segundas e aos sábados, geralmente quando acontece uma grande reviravolta (no fim do capítulo de sábado) e sua resolução (no início do capítulo da segunda-feira). O capítulo de quarta é reduzido por causa do futebol e pode ter sua audiência particularmente prejudicada. Os capítulos de terça e quinta podem ser até pulados às vezes.

A tão discutida paixão de Flora por Donatela, na sua opinião, era um amor afetivo/carnal homossexual, ou isso foi mais piração do movimento gay?

A Flora era, antes de tudo, uma pessoa com sérios problemas psicológicos e emocionais. Ela tinha ciúme genuíno de Donatela, o suficiente para assassinar o pivô da separação da dupla e fazer toda aquela trama sobre a paternidade do Halley. A declaração dela de "Eu te amo, Donatela", pode ter tido inúmeras conotações.

 Pode, realmente, ter havido um desejo íntimo dela, ou pode ter sido uma relação de "quase irmãs" que foi levada a um extremo por conta de uma condição emocional/mental instável. E, particularmente, não gostaria que a Flora fosse uma lésbica enrustida, porque isso poderia levar a outra visão superficial e preconceituosa de que homossexuais são pessoas psicóticas, que não contentes em tentar seduzir heterossexuais, são capazes de matar e causar grande sofrimento por causa dessa "paixão doentia". Nada impede que ela fosse lésbica mal resolvida e isso só piorasse a condição instável dela. Mas o exagero e a superficialidade da novela podem ser interpretados como "realidade" é perigosíssimo que haja sequer a possibilidade de se fazer tal relação entre homossexualidade e doença mental.

Sobre o personagem Orlandinho, que suscitou a discussão do ex-gay. Como você enxerga o fio narrativo e a interpretação de Iran Malfitano ao longo da novela?

O Orlandinho era um personagem cômico, caricato. Por isso mesmo, era exagerado e inverossímil. O problema, novamente, foi ele ter suscitado a possibilidade de uma discussão séria sobre um tema muito delicado, porque algumas pessoas acharam que ele reproduzia uma imagem da "realidade". Acho que o próprio Iran Malfitano não sabia exatamente o que estava fazendo com o personagem e qual era o melhor rumo a ser levado. Eu vi algumas declarações dele defendendo que seu personagem era heterossexual porque nunca tinha levado a cabo uma relação com outro homem. Ou seja, ele afirmou que, "se você não praticar sexo homossexual, você não é homossexual". Sabemos que a sexualidade é muito mais complexa do que isso.

Além disso, a imprensa reforçou, com matérias e chamadas de primeira página a tal imagem do "ex-gay", do "gay que vira homem" (como se todo gay não fosse, por definição, homem). Alguns militantes e pesquisadores estranharam publicamente que o termo "bissexualidade" sequer tenha sido usado pela imprensa. Mas, se algumas pessoas dentro do próprio Movimento Homossexual Brasileiro (MHB) afirma que bissexualidade não existe e que todo bi é meramente um gay em processo de evolução, o que se pode dizer da sociedade em geral, que é menos esclarecida sobre o assunto?

Creio que, olhando  a evolução do personagem do início ao fim da trama, foi uma tentativa infeliz de apresentar à sociedade uma situação "cômica" que acabou gerando uma discussão "séria" e por um viés equivocado - de que é possível "converter" ou "curar" um gay, pelo menos se ele ainda não tiver "provado da fruta".

Cinco pessoas comparecem a protesto por vítimas do "maníaco do arco-íris" em Carapicuíba

Cerca de cinco pessoas compareceram ontem (25/01) à manifestação em solidariedade as vítimas do Parque dos Paturis, em Carapicuiba, na Grande São Paulo, onde foram assassinados 13  homossexuais entre julho de 2007 e outubro de 2008.

A organização do ato ficou nas mãos da Ong Igualeunão, na pessoa de seu presidente Edivaldo Esteves. Programado para começar às 15h, o protesto teve início quase quarenta minutos depois devido a falta de público. "Disseram que viria uma caravana do Fórum Paulista, vamos esperar", explicou Esteves momentos antes de o ato tomar corpo.

Segundo Esteves, depois que o caso das mortes foi notícia na grande imprensa, o parque contou com reforço na segurança. "Diz o novo prefeito [Sergio Ribeiro] que irá cercar o parque, como é o Ibirapuera, fazer uma única entrada e colocar uma base fixa da polícia".

Do alto do carro de som, Esteves agradeceu o apoio material da APOGLBT - Associação da Parada do Orgulho LGBT de São Paulo -, da  CADS -Coordenadoria de Assuntos da Diversidade Sexual - e do Grupo CORSA - Cidadania, Orgulho, Respeito, Solidariedade e Amor. Também foram citados o grupo LGBT do PDT da cidade, e o Forum Paulista. Registre-se que nenhuma das entidades esteve presente.

Após falar sobre as mortes ocorridas no local, Esteves chamou atenção para a campanha "Não gaste seu dinheiro onde não pode trabalhar", iniciativa de movimentos sociais para incentivar a contratação de trabalhadores negros no mercado de trabalho. O presidente da Ong leu também o texto "Sem armas eles matam muito mais" de sua autoria, que serviu de homenagem ao recém-empossado presidente dos Estados Unidos Barack Obama, e falou sobre a morte de negros no sistema capitalista.

Tarcísio Lira, presidente do PT de Carapicuíba, foi o segundo a falar. "Saudações companheiros e companheiros. Membros dos movimentos sindicais e sociais, este será o primeiro de muitos atos que faremos para diminuir a violência neste parque", começou. Neste momento, o público não passava de dez pessoas. Algumas crianças empinavam pipas de isopor e andavam de bicicleta, sem entender muito bem o que estava acontecendo no local.

"Sou amigo pessoal do prefeito e companheiro de lutas, Sergio Ribeiro, e posso garantir: queremos transformar este local em um centro de lazer. Temos quatro anos pela frente para resolver estes problemas. Pegamos uma cidade arrasada, transformada numa área de guerra e estamos trabalhando para que não aconteça o que tem acontecido", disse.

Depois Esteves voltou a falar. Criticou o descaso do governo Estadual com os assassinatos. "O governador José Serra só aparece aqui em Carapicuiba quando é ano eleitoral. Na época, Serra declarou que estava preocupado com os ataques. Por que então não tomou providências desde o princípio?", questionou.

"Aqui neste parque, morreram mais pessoas do que no desastre da Igreja Renascer. A questão não é de competição de onde morreram mais, é das vidas que foram perdidas e do descaso". A poucos metros de onde estava o carro de som, uma equipe de reportagem registrou a imagem de uma suástica, simbolo nazista, grafada em um poste.

O protesto terminou por volta das 17horas, com a fala de Marcia Gibin Garcia, explicando sobre as diferenças entre hetero, homo e transexualidade.

EUA: Prefeito gay revela caso com adolescente e divide comunidade LGBT

As declarações do prefeito assumidamente gay de Portland nos Estados Unidos, Sam Adam, de que teria se envolvido com um adolescente, têm gerado polêmica e a divisão de opiniões entre a comunidade LGBT do país.

Em 2005, quando a história veio à tona, Sam fazia campanha e negou que tivesse se envolvido com o garoto, que também trabalhava na prefeitura. Esta semana, ele voltou atrás e pediu desculpas por ter mentido em sua campanha.

Com isso, os gays passaram a se questionar sobre o fato de Sam Adam continuar sendo representante da comunidade. "Sam sempre foi nosso cara, o que torna a questão ainda mais difícil", disse Marty Davis, editor do jornal Just Out, à Advocate.

De acordo com um comissário de Portland, a imagem da cidade está abalada e a quantidade de e-mails pedindo a renúncia do prefeito tem aumentado a cada dia.

06/01/2009

Por que aprovar a PL 122



Observamos hoje uma grande confusão com relação a um Projeto de Lei que tramita no Congresso Federal, que transforma a homofobia como crime. Mas o que é homofobia? Não é que se pensa, não é medo de homem, mas é toda manifestação discriminatória que é praticada contra pessoas que apresentem desejos homoeroticos, ou seja, é o vizinho que insulta o outro por ele ser gay, ou o caso de um sujeito passar por vexame pelo fato de ser afeminado ou estar andando com seu parceiro e demonstrar qualquer tipo de afeto.

Outro dia estava indo trabalhar quando passo por uma loja, um armazém de cereais para ser mais exato, onde duas mulheres conversavam uma dizia:

“- Minha filha tinha um professor, ai tiraram ele e colocaram um viado. Olhe uma coisa, fizeram um abaixo-assinado para tirar o “viado” e por um professor...”

Eu só ouvi até esse ponto da conversa mais ela continuou, então pergunto: o que isso tem haver com o Projeto de Lei conhecido como PL 122? Tudo, vamos pensar, o “viado” a quem essa moça se referia é uma pessoa com curso superior e que se preparou para exercer sua profissão, não quero entrar no mérito da qualidade do professor, até porque para ser um profissional medíocre não é preciso ser gay, basta ser irresponsável, quantos “professores” que se dizem heterossexuais são uma verdadeira porcaria como profissional, mas você não vê ninguém dizendo que vai fazer um abaixo-assinado para tirar o hetero, mas o simples fato do rapaz ter desejos homoeroticos lhe custou um emprego, mas a Constituição Federal garante a igualdade independente de cor, sexo, religião ou outra forma de segregação, então esse rapaz, que pode ser ou não um excelente profissional não pôde por em prática aquilo que passou anos se preparando, dedicou tempo e se deu para ser o melhor que pudesse, mas o simples fato de ser “viado” o impossibilitou o exercício da sua profissão.

A PL 122 não vem tirar o direito das pessoas se expressarem, como dizem alguns radicais religiosos, mas sim dar a segurança àqueles que vivem constantemente em estado de defesa uma cobertura, uma segurança que não vão ser agredidos gratuitamente. A PL 122 não fazer com que gays de todo o Brasil saiam pelas ruas praticando atos obscenos, até porque não é só gay que faz sexo na rua, o mais comum é ver casais heteros em cantinhos escuros, sem que isso levante uma onda perseguição por parte de alas radicais da sociedade, o que esta acontecendo com pessoas que apenas apresentam desejos homoeroticos, mesmo que nem exerçam esses desejos, justamente por medo das perseguições da sociedade.

A TV e a Sexualidade Humana

A sexualidade humana não é tão simples como se imagina. O ser humano não é simplesmente disposto a ser hetero, gay ou bissexual. O que o autor da novela global “A Favorita” está mostrando com seus dois personagens gays nada mais é do que a expressão maior dos desejos sexuais e afetivos de cada sujeito.

O fato de um rapaz gay, que pressionado pela família teve que arrumar um casamento com uma ex-garota de programa e que agora descobre uma atração afetiva que acaba levando ele a manter relações sexuais satisfatórias e prazerosas com sua “esposa” pode levantar a insatisfação de diversos segmentos do meio LGBT, o que para muitos pode parecer uma “escorregada” de um homossexual carente eu penso que o personagem mostra que o sujeito é produto do meio em que vive e seus desejos sexuais também podem refletir esse meio, não quero dizer que o sujeito que apresentam desejos homoeroticos podem ou devem se interessar sexual por sujeitos do sexo oposto, mas o fato do individuo que durante toda sua vida apresentou desejos por outros do mesmo sexo pode, sem que isso interfira no seu desejo sexual, se interessar por indivíduos do sexo oposto.

Tentado explicar melhor, observamos outra personagem que apresenta desejos homoeroticos, a lésbica Stela, que começa uma amizade verdadeira com outra personagem, Catarina, que é uma mulher carente, mal tratada pelo marido e que ao descobrir que sua amiga tem desejos por pessoas do mesmo sexo não repudia, pelo contrário, passa a ser mais companheira da amiga. Catarina é uma, podemos dizer, exemplo de mulher heterossexual, casada, com filhos, mas passa a ver uma nova possibilidade de relacionamento com sua patroa lésbica. O caso contrário do caso de Orlandinho e Maria do Céu, onde o casamento era para ser apenas de fachada, mas o relacionamento dos dois começou a apresentar sinais de desejos sexuais por parte do rapaz, que é assumidamente gay. Seria o caso da cura de um homossexual? Creio que não, peço contrário o autor mostra conhecimento e apresenta toda complexidade que é a sexualidade humana. Em uma cena onde Orlandinho tem uma crise de ciúmes que acaba numa surra em dois outros rapazes que sem nenhuma cerimônia paqueram sua “esposa” também diz que não quer falar sobre Haley, outro personagem por quem ele era apaixonado e que é o verdadeiro pai do filho que sua “esposa” espera.

A mudança do comportamento de Orlandinho apenas mostra que os desejos sexuais nada tem a ver com os esteriotipos e com afeminação, que ele tem um comportamento másculo e que se sente atraído por homens, como se sente também atraído por mulheres.

O fato de um gay ter relações heterossexuais e de uma heterossexual passar a ser cogitada como uma futura parceira homossexual mostra que a sexualidade humana é tão fluída como sua própria identidade. As propostas de enquadramento em grupos é uma criação humana e não natural, a diversidade e as adaptações, sim são naturais, observando a natureza não vemos a constância como natural, os animais evoluem, as plantas se adaptam e por que o ser humano tem que ser fixo e imutável em sua natureza?

A diversidade de cores, de idéias, de personalidade mostra que o ser humano é naturalmente fluído e complexo, que existem diversas possibilidades para se obter prazer. Os desejos sexuais podem mudar e isso não quer dizer que o fato de ser gay ou ser hetero seja anormal ou normal, creio que o normal é cada sujeito ter desejos saudáveis e apresentar um apetite de felicidade em sua vida de forma completa e isso inclui as áreas sexuais, seja homem com homem, homem com mulher, mulher com mulher, homem com mulher e com homem também, enfim não podemos aceitar a fixidez como uma normalidade, temos que ver sim a fluidez, as mudanças, as experiências como algo natural. Quantos homens casados se aventuram em experiências homoeroticas escondido e acabam gostando, mas também não deixando de ter desejos pela sua esposa, ou a esposa que experimenta com uma amiga e acaba obtendo prazer tanto com seu parceiro como sua amiga? Como também existem pessoas que não sentem prazer algum mantendo relações homoeroticas, para pessoas heterossexuais, ou gays que não tem nenhum prazer em relações heterossexuais.

Viva a diversidade! Viva o direito de cada um ser o que quiser! Diga não ao preconceito, seja ele qual for!